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Saúde pública de qualidade para salvar economia e empregos
Cláudio Prado

Cláudio Prado

Consultor da Fundação 1º de Maio

Taxa de letalidade de COVID-19 é menor em hospitais privados

De acordo com dados do projeto UTIs Brasileiras, 29,7% dos pacientes de UTIs de hospitais privados morrem depois de terem a COVID-19. No entanto, a proporção de mortes é ainda maior na rede pública: 52,9%. Ou seja, um aumento de 23,2 pontos percentuais (ou 78%) em relação ao serviço particular.

As razões para isso são muitas, sendo a principal o fato de os doentes já chegarem aos hospitais públicos em condições ruins. Os dados do projeto mostram que, entre os pacientes internados da rede privada, 39,4% requerem intubação. Já no caso da rede pública, o número vai para 63,2%.

“Nunca foi tão clara a necessidade de um sistema nacional de saúde de excelência para que possamos ter desenvolvimento econômico, social e proteger a vida da população”, afirma Rezende.

 O SUS realiza 2 bilhões de procedimentos a cada ano, entre cirurgias, tratamentos, internações, vacinas, campanhas e outras atividades. Em todo o país, 42 mil postos de saúde atendem gratuitamente a população.

Mas é importante lembrar que, mesmo antes da pandemia, o SUS estava invisível, abandonado e sem recursos. Os principais pontos que já desafiavam a capacidade de melhora são:

1.      Baixos investimentos

2.      Falta de profissionais na saúde pública

3.      Infraestrutura defasada

4.      Tecnologia de baixa qualidade

5.      Superlotação nos hospitais

6.      Doenças alarmantes

Apesar da falta de recursos, SUS é herói no combate à pandemia da COVID-19

O contexto de pandemia trouxe o olhar da população para o SUS, representado pelos inúmeros profissionais de saúde e pela sua solidariedade nunca antes vista neste momento de caos sanitário.

Após o período de pandemia, é o momento de o SUS começar a ser respeitado pelas autoridades federais, com valorização do serviço e maior orçamento.

Nova doença trouxe desafios ao SUS

Três conceitos fundamentais são a base para o desempenho correto do SUS nos moldes em que foi proposto: universalidade, equidade e integralidade. Como esses três pilares estão intimamente relacionados, a performance de um afeta a dos outros.

A má equidade, ou seja, o investimento desequilibrado, afeta a integralidade por não permitir a assistência médica necessária em todos os níveis. A situação, por sua vez, implica no não alcance da universalidade, fazendo com que o sistema público de saúde brasileiro não alcance da mesma forma a todos que estão no território nacional.

Além disso, enquanto o trabalho não chega para cerca de 15 milhões de brasileiros, 6 milhões de desalentados (pessoas sem vínculo empregatício e seguridade social) e 46% de jovens à espera da empregabilidade, os números gritantes da desigualdade social só cresce.

A desigualdade também fez o número de desabrigados crescer nas inúmeras cidades do Brasil. São milhões de famílias sem trabalho, sem teto, sem comida, sem plano de saúde e em meio a pandemia da COVID-19.

Mas mesmo com todas as limitações, se não houvesse um sistema de saúde com cobertura gratuita, universal, integral e equitativa, o Brasil enfrentaria dificuldades ainda maiores no combate ao novo coronavírus.

A situação seria muito mais grave do que já é, como pontua o pesquisador da Fiocruz, Fernando Bozza, ao elencar alguns dos fatores que levaram à piora do quadro nos últimos meses:

1-      UTIs lotadas;

2-      centros médicos sem condições de atendimento;

3-      profissionais sem experiência de intubação;

4-      burnout (estresse crônico) das equipes;

5-      falta de equipamentos;

6-      quebra de protocolos de boas práticas.

Fernando apontou que o maior problema está na escassez de profissionais, incluindo médicos e enfermeiros, além da questão de ser impossível aumentar o número de leitos de forma eficaz a curto prazo.

O médico Rodrigo Biondi, presidente da regional do Distrito Federal da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), também foi nessa linha, em entrevista ao portal Poder360. “No Reino Unido, havia 1 enfermeiro por paciente antes da pandemia. Agora, há 1 para 3 pacientes e eles dizem que é impossível trabalhar. No Brasil a legislação permite 1 para 10 e estamos com situações muito piores do que isso”, afirmou.

A lei que criou o SUS reconhece e obriga a igual responsabilidade para o poder federal, para os estados e para os municípios, em uma gestão tripartite. É por esta razão que o corte de gastos e a má gestão prejudicam o SUS.

Segundo o médico sanitarista e ex-ministro da saúde, Arthur Chioro, em declaração para o portal Brasil de Fato, infelizmente, o orçamento volta para os níveis de 2019, atualizado só pela inflação, fazendo com que o SUS perca R$35 bilhões.

O SUS precisa ser defendido como uma bandeira social, os próprios usuários do sistema precisam levantar a voz e lutar pela sua defesa.