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A política do corpo: como o Outubro Rosa revela o quanto a saúde da mulher depende de escolhas políticas
A política do corpo: como o Outubro Rosa revela o quanto a saúde da mulher depende de escolhas políticas
O mês de Outubro se veste de rosa e traz à tona a importante pauta da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama

O mês de Outubro se veste de rosa e traz à tona a importante pauta da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. No entanto, a saúde da mulher, especialmente no que tange a uma doença com tamanha relevância, ultrapassa o campo individual e se estabelece na esfera pública e política.

A enfermeira Monica Calazans, reconhecida por ter sido a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Brasil, utiliza o marco do Outubro Rosa para destacar essa relação intrínseca, reforçando que a capacidade de prevenção e tratamento é diretamente influenciada por diretrizes e equipamentos políticos.

As orientações sobre os exames de rastreio são um exemplo claro de como a saúde é regida por decisões políticas baseadas em evidências científicas e na capacidade do sistema de saúde.

“Dos 50 aos 59, esse exame deve ser realizado a cada dois anos. E, principalmente, se você tem um histórico familiar, para rastrear algum tipo de problema que você possa desencadear. Acima de 74 anos, não é necessário fazer a mamografia de rastreamento, não é mais necessário. Mas antes de tudo isso, eu gosto de evidenciar o seguinte: a mulher tem que fazer o autoexame. Isso ajuda muito pra ter um diagnóstico precoce. Por quê? O autoexame vai evidenciar alguma anormalidade nas mamas e faz com que a mulher já procure um equipamento de saúde para, assim, fazer os exames específicos, para poder prevenir e tratar”, explica Monica.

Embora apenas cerca de 5 a 10% dos casos tenham histórico familiar, a atenção deve ser redobrada para essas mulheres. Contudo, fatores como obesidade, excesso de estrogênio, tabagismo e exposição à radiação também são relevantes. A política pública de saúde precisa abordar esses fatores de risco de forma abrangente, quebrando a ideia de que o câncer é apenas uma questão genética.

Essas definições etárias e de periodicidade não são aleatórias; são escolhas que buscam o equilíbrio entre a eficácia clínica e a sustentabilidade de um sistema de saúde universal.

Antes mesmo dos exames clínicos, há um ato de saúde que depende da mulher, mas que é vitalmente potencializado pela informação e educação fornecidas por políticas públicas: o autoexame.

O autoconhecimento do corpo permite que a mulher perceba anormalidades como:

  • Endurecimento das mamas;
  • Diferença no tamanho das aréolas;
  • Edema ou vermelhidão;
  • Secreção (inclusive clara).

A detecção precoce de qualquer um desses sinais permite que a mulher procure o serviço de saúde prontamente. Como Mônica Calazans enfatiza, “a prevenção é a melhor coisa”, e quanto antes a anormalidade é observada, maiores são as chances de um resultado positivo no tratamento.

A maior expressão da política de saúde no Brasil é o SUS (Sistema Único de Saúde). Mônica Calazans destaca o SUS não apenas como um serviço, mas como um equipamento público com total competência para:

  1. Prevenir: Através da educação em saúde e orientações de rastreio.
  2. Diagnosticar: Disponibilizando exames específicos.
  3. Tratar: Garantindo o acesso ao tratamento necessário.

“Existe uma lei que a pessoa, a partir do momento que descobre que tem alguma neoplasia, algum câncer, ela tem 60 dias, a partir do diagnóstico para iniciar o tratamento. Então, eu quero deixar claro aqui que nosso equipamento de saúde, apesar de todas as deficiências que existem, para esse tipo de tratamento, ele dá um apoio muito importante para as mulheres quando diagnosticada”.

Apesar das “deficiências que existem”, o SUS demonstra um apoio fundamental. A valorização do tratamento e o empenho dos profissionais de saúde, conforme atesta a enfermeira que dedicou sua carreira ao serviço público, são a prova de que a saúde de excelência é possível quando há investimento e vontade política.

A luta contra o câncer de mama é, inegavelmente, um ato de cuidado individual, mas a possibilidade de sucesso depende fundamentalmente da Política do Corpo. As diretrizes sobre quando fazer o exame, o acesso à informação para o autoexame e, crucialmente, a existência de um sistema de saúde robusto como o SUS, que garante o diagnóstico e o tratamento em 60 dias, são escolhas políticas.

“Eu sou suspeita em falar do Serviço Público de Saúde, porque eu sempre trabalhei em serviço público, e sei da valorização, uma vez que o paciente é diagnosticado com câncer, a valorização do tratamento e o empenho de todos os profissionais de saúde para que esse paciente tenha um resultado positivo”, encerra. 

A saúde da mulher não é apenas uma questão biológica, mas sim um direito que deve ser garantido, valorizado e financiado por decisões que refletem o compromisso de uma nação com a vida de suas cidadãs. A adesão ao tratamento e a busca por excelência na assistência são a materialização dessa política em favor da vida.