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O racismo estrutural e o mercado de trabalho: entenda a relação entre ambos
Gilmária Oliveira dos Santos

Gilmária Oliveira dos Santos

Secretária estadual da Mulher do Solidariedade/BA

O racismo estrutural e o mercado de trabalho: entenda a relação entre ambos
Foto: Mikhail Nilov - Pexels.

Para iniciar nossa reflexão entendamos o que racismo e o lugar que ele ocupa na sociedade brasileira.

Siga o raciocínio! Para construção de uma casa, materiais serão como: cimento, vergalhões, areia e água, serão necessários para construção do alicerce. Ao subir os vergalhões, os tijolos são sobrepostos um ao outro, ligados sobre camadas de cimento.  Isso dará sustento a toda construção. Mas o que isso tem a ver com o racismo? Na edificação da sociedade brasileira, o racismo é o cimento que dá a fixação dos tijolos. Ele é o elemento que sustenta a estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.

Foram 300 anos de escravidão no Brasil, a abolição aqui aconteceu de forma tardia, já que dos países Americanos, o Brasil foi o último a realizar formalmente a escravidão negra em 1888.

Infelizmente, foi mais de um século em que a escravidão ficou enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira um pensamento que marginaliza as pessoas negras, as impede de se constituírem como cidadãs plenas até os dias atuais.

A naturalização de ações, comportamentos, fatos, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial, chamamos de Racismo Estrutural.  Atitudes que ficaram impregnadas nas mentes “limitadas” afetam duramente – e diariamente – a população negra.

No dia-a-dia, estão normalizadas frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso. Piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, constrangedoras e até criminosas. E também ações que tem por base preconceitos como desconfiar da índole de alguém pela cor de sua pele.

Essa discussão importa para quem?

A forma como a sociedade entende as questões raciais estruturantes e as subjetividades que são impostas, compõem a estrutura das relações sociais, que estão impregnadas de uma construção histórica equivocada, que mantém a população negra em posição de subalternidade.

Esse equívoco de narrativa culmina na desvalorização da cultura, intelecto e história da população negra.  Cria uma pobreza intelectual do negro, minando suas potencialidades de inserção no mundo do trabalho e valorização enquanto potencial. E principalmente aumenta o abismo criado por desigualdades sociais, políticas e econômicas.

Apesar do aumento de negros nas universidades, eles ainda são minoria em cargos de liderança em empresas no Brasil. Como reverter esse panorama?

Para chegar ao mercado de trabalho, o primeiro desafio enfrentado pela população negra é o acesso a profissionalização. Este fenômeno, por exemplo, mostra claramente o quanto não basta ter uma política como a das cotas sem a criação de oportunidades para os negros em diferentes ramos da sociedade. Se retomarmos o período escravista, vamos rememorar que o trabalho remunerado e reconhecido como tal não era para os negros. Claro que, mesmo diante de tantas práticas de apagamento e silenciamento, impediram-nos de acessar o talento, a sabedoria, a capacidade de muitos negros que se destacaram e muito na história da humanidade como ato de resistência e bravura. Só que eram sempre minoria, ou melhor dizendo, ainda são. E não estamos falando de maneira nenhuma só de cor da pele, porque tem as questões étnicas, os aspectos socioculturais, a condição socioeconômica que marca a vida da negritude. Ou seja, há muito que se romper no que se refere aos estigmas decorrentes do que foi sempre tratado como características da inferioridade, dos não pertencentes.

Quando falamos de oportunidade, queremos colocá-la aqui no seu sentido mais amplo, e não apenas aquela bolsa de estudo para o menino pobre da favela, a vaga na creche para uma mãe negra, a vaga no pré-natal para uma jovem negra grávida, a bolsa num curso de inglês para uma aluna negra de periferia.

Ainda vivemos rodeados de contradições e sabemos que estamos longe de termos oportunidades equitativas por identificarmos o quão é reduzida a presença de negros em cargos de liderança, novamente essa é uma minoria e por isso, muito a fazer e muito a mudar para que negros e negras possam ocupar os lugares estando onde queiram estar e ajudando na construção de um mundo mais digno.

O desafio está em se pensar em oportunidades efetivas que proporciona aos negros assumir o seu lugar como protagonistas de sua própria história, pois queremos um país que não está no retrato. Daí a necessidade de oportunidades criadas por não negros ou por negros que conseguiram ascender e ocupar espaços não antes ocupados, pela exigência de um olhar diferenciado por um outro modo de pensar e agir decolonial.

Não obstante, é necessária e possível promover a inclusão racial. Não há uma formula pronta para tanto, mas se impõe, acima de tudo interesse político e social, participação e o uso de meios que façam da admissão de profissionais negros grandes oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento das instituições. Isto porque, pensar em inclusão implica mudanças de comportamento, estruturas e estratégias e quebra de paradigmas, com o objetivo de qualificar os profissionais negros que chegam e principalmente as equipes que os recebem.

É importante compreender que a inclusão racial não se resume em admitir pessoas negras nos quadros das empresas. A efetiva inclusão racial consista em admitir, acolher, capacitar e reter esses profissionais nos diferentes postos do mercado de trabalho. Isto porque, via de regra, a perspectiva de uma pessoa negra é de que ela não será aprovada no processo seletivo, pois, infelizmente, em decorrência do racismo estrutural e institucional que existem em nosso país, ela já sabe que a cor da sua pele é fator de eliminação.

Os dados falam por si só

O contingente fora da força de trabalho no Brasil foi estimado em 67 milhões de pessoas no primeiro trimestre de 2023. O incremento foi de 1,1 milhão de pessoas frente ao trimestre anterior. Na comparação anual, subiu em mais de 1,5 milhão.

No último trimestre de 2022, o índice de desocupação das mulheres era de 9,8% enquanto o dos homens era de 6,5%. No recorte por cor ou raça, o IBGE verificou que a taxa de desocupação, no primeiro trimestre deste ano, era de 11,3% entre os que se autodeclaravam pretos, 10,1% entre os pardos e 6,8% entre os brancos. As maiores taxas de desemprego foram da Bahia (15,5%), Pernambuco (13,6%) e Sergipe (12,7%), e as menores, de Santa Catarina (3,9%), Mato Grosso (4,4%) e Mato Grosso do Sul (5,2%).


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