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História da vacina e avanço da imunização: em que pé estamos?
Diógenes Sandim

Diógenes Sandim

Médico Sanitarista e consultor da Fundação 1º de Maio

O alerta que fazemos é que endemia não significa um cenário inofensivo. O cenário só vai ser inofensivo se a gente trabalhar para isso e termos uma vigilância epidemiológica suficientemente competente e operacional.

Todas as gerações, incluindo a minha, da década de 1950, somos testemunhas da eficiência profilática das vacinas no controle de várias doenças em todo o mundo. Se existem meios científicos, criados pela biotecnologia farmacêutica, de cobertura mais eficazes que as vacinas, ainda estão por vir.

Edward Jenner (1749-1823), ainda no século XVI, com sua observação arguta, percebeu nas pessoas que ordenhavam as vacas com Cowpox (tipo de varíola que acometia as vacas), adquiriam imunidade à varíola humana. A partir daí verificou-se que, aplicando a linfa das lesões das tetas da vaca doente, em uma pessoa não acometida pela varíola, conseguia promover a proteção da doença. Estava descoberta a vacina!

Ao longo da história, as vacinas ajudaram a reduzir mortes e a incidência de muitas doenças entre elas, a pólio, sarampo e tétano. Hoje, são considerados o tratamento com melhor custo-benefício em saúde pública.

Atualmente, após mais de 2 anos de pandemia pelo SARS-COV2, para os mais céticos quanto a qualidade das vacinas aprovadas para esta pandemia, ficam os resultados epidemiológicos de controle da doença em todos os continentes no mundo.

Para as pessoas que por falta de informação correta e/ou vivendo em “bolhas digitais, ” alimentada por “fake news”, não podem de bom grado ignorar os expressivos resultados positivos contra as agravações clínicas, bem como na redução das mortes por SARS-COV-2, decorrente do sucesso da vacinação em massa, apesar do atraso deliberativo de sua aquisição por parte do nosso governo negacionista.

No entanto, ainda vemos grupos de pessoas recalcitrantes, imersas numa matriz ideológica, conservadora, de negação da ciência moderna e contemporânea, são os anti-iluministas resistentes ao avanço civilizatório da história, não é privilégio só nosso, infelizmente é hoje uma mancha mundial. Por coincidência ou não, interessante que o marco inicial da idade moderna, o ano de 1789, é justamente o ano que Edward Jenner descobre a vacina.

Dito isto, é necessário emitir nossa opinião de como fica os desdobramentos da pandemia da SARS-COV-2 daqui para frente. Os dados epidemiológicos das últimas semanas da pandemia no Brasil e no mundo nos aproxima de um novo momento da manifestação da OMS reclassificando o status de pandemia para o de endemia da SARS-COV-2, que dessa forma como as gripes (influenza) não veremos mais aumento acentuado de casos ou diminuição grande em suas taxas gerais.

Numa situação endêmica a gente não vê uma explosão de casos. Eventualmente pode ocorrer um surto, mas a tendência é o vírus ter comportamento conhecido e previsível ao longo dos anos e quando monitorado seu genoma, podemos com rapidez garantir vacina, como hoje já ocorre com a vacinação contra a gripe sazonal.

O alerta que fazemos é que endemia não significa um cenário inofensivo. O cenário só vai ser inofensivo se a gente trabalhar para isso e termos uma vigilância epidemiológica suficientemente competente e operacional.