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Entre Águias e Dragões: os Desafios da Política Brasileira na Guerra Comercial EUA-China
Cairo Tavares

Cairo Tavares

Cientista político e mestre em administração pública

Entre Águias e Dragões: os Desafios da Política Brasileira na Guerra Comercial EUA-China
Imagem via Pexels

Desde o início da nova era tarifária de Donald Trump, o Brasil tem sido obrigado a lhe dar com a nova onda de incerteza global, vendo, por um lado, novas possibilidades crescimento e expansão de exportações em alguns setores, mas, ao mesmo tempo, enfrentando desafios em outros. Após quase um mês, a guerra comercial de Trump e seu tarifaço, ganha arrefecimento após o anúncio de uma trégua de 90 dias, com tarifa de 30% para China e 10% para os Estados Unidos. Apesar de ter durado pouco, a escalada de tarifas impostas entre EUA e China ficaram em patamares impraticáveis, 145% para este e 125% para aquele, e ameaçou paralisar por completo o comércio entre os dois países, que, por consequência, aumentou as expectativas de uma recessão global.  Vide gráfico abaixo sobre a guerra de tarifas entre os dois gigantes

Embora haja diminuição da incerteza global, ainda que curta, o Brasil continua sofrendo a tarifa básica para todos os produtos de 10% e 25% para o aço e alumínio. Esse cenário exigiu e exige do país uma nova postura em relação aos americanos (segundo maior parceiro comercial) e o restante do mundo. Assim que anunciado o tarifaço, houve uma resposta institucional clara de apoio do Congresso Nacional ao Executivo por meio da aprovação Lei nº 15.122, de 2025, a qual, em resumo autorizou o governo brasileiro a adotar represálias comerciais, como tarifas extras ou suspensão de obrigações, em resposta a medidas hostis ou barreiras comerciais injustificadas de outros países.

Apesar da nova possibilidade legal, o governo brasileiro tem optado por adotar o caminho do diálogo, buscando uma saída negociada para reverter as medidas, embora as outras opções não estejam descartadas (retaliação, recurso a OMC). Além disso, o governo tem buscado aumentar o multilateralismo, na busca da ampliação de acordos comerciais, especialmente com a China.

A cautela adotada pelo Brasil ocorre por dois fatores principais, quais sejam: primeiro, o país está no grupo dos países que recebeu a menor tarifa imposta pelo governo americano, e, em segundo, se o país buscar retalhar diretamente, poderá sofrer novas sanções, pois há varias tarifas nacionais impostas aos americanos em patamares mais elevados.

Neste contexto, a economia real tem visto efeitos desiguais entre os diversos setores econômicos do país. A agroindústria, por exemplo, tem se beneficiado da demanda chinesa por soja, milho e carne, em substituição aos produtos norte-americanos. Contudo, apesar da tendência de ganho de mercado, ela não será tão grande assim, pois na última guerra de tarifas promovida por Trump, o setor conseguiu capturar relevante participação no mercado chinês. Ademais, nos setores de calçados, couro, madeira e móveis o Brasil tende a ganhar competitividade no mercado americano. Já a indústria de base, sobretudo a siderurgia e o setor de alumínio, tem sofrido perdas significativas com as tarifas extras, afetando empregos e investimentos.

Outra preocupação é com aumento expressivo de produtos chineses no mercado nacional, uma vez que com a perda de espaço no mercado americano, a China irá tentar escoar o máximo de produtos para outros países, a fim de não ter sua atividade econômica reduzida. Por fim, com a trégua anunciada ente EUA e China está aberta a temporada para o diálogo entre os gigantes. Não obstante, por mais que haja um acordo dos americanos com a china e as outras nações taxadas em um futuro próximo, a ordem do comércio mundial como conhecida até então é passado.  O governo Trump inaugurou uma nova era do comércio, onde as relações bilaterais e a busca por diversificação dos parceiros comerciais serão a máxima para os estados nacionais. Logo, caberá ao Brasil utilizar todas as suas vantagens competitivas, em especial energia limpa, para atrair investimentos e expandir os acordos de comércio de forma estratégica com vários países do globo.