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A força da liderança feminina quilombola
Juliana Grande

Juliana Grande

Vereadora de Santo Amaro/BA

A força da liderança feminina quilombola
O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra é, portanto, um momento para celebrar trajetórias de coragem e resistência quilombola

O dia 25 de julho foi instituído, por lei de 2014, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, coincidindo com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Esse marco reforça a importância de reconhecer a força e a resistência das mulheres em toda a América Latina e Caribe. Mais do que uma simples comemoração, este dia é um chamado à reflexão sobre a força da liderança feminina negra nos quilombos, que, apesar dos séculos de desafios, continua a inspirar e a transformar.

Antes de tudo, é importante entender que comunidades quilombolas são grupos étnicos que possuem uma trajetória histórica de resistência à escravidão, com uma identidade própria, baseada na ancestralidade, na territorialidade e nas suas tradições culturais. Elas são descendentes de africanos escravizados que fugiram e formaram comunidades independentes, os quilombos, que se tornaram refúgios e espaços de preservação de suas culturas.

Atualmente, os quilombos são reconhecidos como unidades territoriais e culturais, e suas comunidades têm o direito à titulação de suas terras, à preservação de suas tradições e ao reconhecimento de sua identidade étnica. A vida nessas comunidades é regida por saberes ancestrais, transmitidos oralmente, que formam uma verdadeira “constituição viva” para seus membros.

A força da mulher negra no Brasil transcende a história de Tereza de Benguela. Ao longo dos séculos, elas estiveram na linha de frente das lutas por liberdade, justiça social e igualdade. Desde as mulheres que resistiram à escravidão, passando pelas que lideraram movimentos abolicionistas, até as ativistas contemporâneas que combatem o racismo e o machismo, a mulher negra tem sido um pilar essencial na construção de um Brasil mais justo e equitativo.

No cenário atual, a liderança da mulher negra se manifesta em diversas esferas: na política, com um número crescente de representantes que buscam dar voz às pautas de suas comunidades; na academia, produzindo conhecimento e desafiando narrativas dominantes; no empreendedorismo, criando soluções inovadoras e gerando impacto social; e nas artes, expressando suas vivências e transformando a cultura. Mesmo diante de estatísticas que ainda apontam para desigualdades significativas em acesso à educação, saúde e oportunidades no mercado de trabalho, a mulher negra persiste, inova e lidera.

Maria Tereza de Benguela foi uma das figuras mais emblemáticas da resistência negra no Brasil colonial, liderando o Quilombo do Piolho (também conhecido como Quariterê), no Mato Grosso, durante o século XVIII. Sob a liderança de Tereza, o Quilombo do Piolho se tornou uma verdadeira fortaleza, com uma estrutura política, econômica e militar.

O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra é, portanto, um momento para celebrar essas trajetórias de coragem e resistência. É também uma oportunidade para reafirmar o compromisso da sociedade em apoiar e amplificar as vozes das mulheres negras, reconhecendo seu papel fundamental no avanço social e na construção de um futuro mais inclusivo para todos. A luta por equidade e reconhecimento continua, e a força da liderança feminina negra é, sem dúvida, um dos motores mais potentes dessa transformação.